28.4.05

Rapidinho

Só pra registrar que "Herói" e "O Clã das Adagas Voadoras" são tão lindos que dá até vontade de chorar. Zhang Yimou, obrigada pelas epifanias a 24 quadros por segundo. "Exuberância é beleza".

19.4.05


Gottes Tod! ( und der Tod ist ein dandy...) Posted by Hello

Com mais de mil demônios dançantes!


Stephan, "Das Ich". Posted by Hello

A noite tinha começado bem, depois de algumas intempéries: o taxista era gente boa e o Aterro começava a brilhar mais do que o habitual. Sorríamos, e o blablablá fluía na medida. A corrida saiu bem mais barata, foi mais rápida e mais agradável do que o normal. Primeiro bom sinal.

Rua cheia e o Cine Íris resplandecendo, velho, decadente, belíssimo. Gente boa na porta, oi oi tudo bem?!?, estávamos elétricos, íamos entrar logo sozinhos, o primeiro show já ia começar. Do nada, os amigos que eu esperava apareceram, sem que combinássemos nada: Marcelle, Mobi, Flavinha, Bix... segundo bom sinal: estávamos no fluxo.

Uma bebida, uns olás, uma flanada rápida e o show do 3 Cold Man, synthpop bem retrô e bem feito, performance suave. Algumas fotos, fluídas como o som e a noite até então. Mas a eletricidade atiçava neurônios e nervos, começou a exigir um pancadão nervoso, com a visão da cidade acesa: e foi o que aconteceu no terraço, Spark só no electro do bom e do melhor, dançar era inevitável. Zé Roberto Mahr continuou muito bem a brincadeira, incluindo EBM e outras boas antigüidades que escuto ele tocar desde que eu era criança: no NT-30 da extinta rádio Fluminense, em discotecagens no finado Crepúsculo, naquele lugar bizarro que era o Balibar...

A pista esvazia um pouco e soa o alerta: o show começou. "Das Ich", que eu costumava dançar nas festas "Interzona", a bisavó da DDK, que acontecia na Basement e num lugar lá na Tijuca que já não sei mais o nome, Black Night, era isso mesmo? Das Ich também rolava sempre nas discotecagens udigrudi em SP, quando eu ia tocar por lá com o Inhumanoids, em lugares como Retrô e Armaggedon. Gostava, me acabava, mas não cheguei a virar fã, pagar uma grana em disco importado, essas coisas - na época eu não tinha nem computador, baixar mp3 então... existia isso? A verdade também é que não tenho muito espírito nem de fã, nem de colecionadora. Prefiro entrar no fluxo... e isso já estava acontecendo; e a noite prometia mais, muito mais.

O que acontecia no palco estava além do que eu esperava: uma densa camada de som e luz servia de fundo para a voz gutural e a dança insólita de um ser que não parecia exatamente humano. Lambuzado como se tivesse acabado de nascer - só que adulto, um golem vestindo calças vermelhas e sapatilhas pretas - o vocalista conduzia a dança e o êxtase de mais de mil demônios. Mais de mil criaturinhas no escuro, participando daquele show-ritual, tornavam-se algo mais do que uma multidão-de-preto-que-ouve-gótico. Ao tentar acompanhar aqueles movimentos sem explicação e aquela voz inumana, uma alquimia também podia se processar em quem assistisse e dançasse junto. Ali, sujo de sangue artificial, fluindo como um fauno eletrificado, um frankenstein bailarino, um demônio da música, uma entidade de mitologias olvidadas, um personagem expressionista que esqueceram de inventar, ele dizia: "Renasçam - sempre!".

O show-ritual exigia dança e participação, mas exigia também que se guardasse imagens - viajei nas fotos, procurei captar um tantinho da fluidez dos movimentos, da força das expressões, do encantamento das luzes. Mas o máximo que se consegue, sempre, é apenas uma lembrança. E foto não tem som, cheiro, vida - especialmente as digitais. Mas a gente faz o que pode.

Ao fim, o Stephan ainda me alegra com um mini-discurso anti-nazi. Um alívio, já que tem tanta gente que confunde alhos com bugalhos e paga o mico sério de se dizer nazi; ou gente que acha que gostar de coisas da terra do chucrute é sinônimo de simpatia pelo nazismo, povo que não leu e não entendeu nada de Nietzsche mas dá "opinião", que fala merda sem querer ouvir qualquer argumento. Qual é... o Stephan mesmo é um perfeito exemplo do que a corja nazi condenaria como "arte degenerada".

Depois do show, ficamos meio desnorteados e bebuns. Acabamos lá no escurinho da pista rock, pulando feito loucos até 6 e pouco da manhã, ao som de velharias queridas como Siouxsie, Sisters, Sonic Youth, Cocteau Twins. E o Stephan lá, dançando com a galera do mesmo jeito que dança no palco, só que "na dele". Essa figura não é humana - será um übermensch?

Eu não acredito num deus que não saiba dançar!

18.4.05


Show do Das Ich na DDk, sábado. Nem era muito fã, mas a performance do Stephan, o vocalista, é absurda. Depois tem mais... Posted by Hello

13.4.05


Posted by Hello
"Mil dólares por meeeês
Pra ficaaar
Bonita!
Ah meu deus, ela acredita!

Em out-door, em revista, na TV
Em duendes, em você
Ai meu deus, ela acredita!

Nos poderes da escova progressiva
Obsessiva, paranóica
Histérica, neurótica
E nem um pouco erótica

Mil dólares por meeeês
Pra ficaaar
Bonita!
Então me diz porque
Não fica?!

Estica, estica
Estica o cabelo, estica essa perna
Estica essa cara, estica até o cú!
Pra ficar bonitaaaa

botox, xerox
dysport, mioblock
botox, xerox
passa fome e consome e coloca silicone
passa fome e consome e coloca silicone
silicone clone, silicone clone
botox, xerox
dysport, mioblock
lipoescultura, thermacool!
rinoplastia, blefaroplastia!
...............................................

SHAKE, DON`T FAKE, DON`T FIT AND DON`T GIVE A SHIT!"

Sem sebo lá no sebo


Posted by Hello
Show de sexta passada no "Plano B", na Lapa - Voz del Fuego e Gerador Zero, em mais um evento do "Efeito Coletivo". Foi ótimo, a Marcelle participou no vocal em duas músicas, gritei, pulei, me diverti e zoeei a MC-505 na "Assim Funkou Zaratustra", que o Fábio mandou do notebook. O FZero também caprichou nos efeitos de voz, sampleou, improvisou, acrescenteu. O show dele foi muito bom, com direito a uma "smashada" em Beattles que, segundo o Fernando lá do Plano B, "salvou o Paul do inferno". Ao todo, foram quase duas horas de som ao vivo, devidamente gravadas.

Rola aquele clima bacana do sebo: sem estresse, sem carão, sem sebo. Amigos, conhecidos, curiosos e até uns gringos perdidos passam por lá pra beber uma cerveja, conversar, sacar os discos e ouvir um som - o lugar é pequeno, no Rio faz calor e muita gente mal assiste, fica só ouvindo do lado de fora, no ventinho da rua. Parece mais um ensaio aberto.

Pela primeira vez a gente levou ao vivo a "Pra ficar bonita + Shake, don´t fake!" com a letra completa, tudo certo. Povo gostou, tinha gente se escangalhando de rir, tô doida pra tocar isso em showzão, com guitarra e bateria. Aliás, estou doida pra tocar ao vivo com a banda TODAS as músicas, os ensaios estão rendendo, está divertido e tá ficando muito bom o treco. Oh yeah.

12.4.05


Mais uma do De Falla. Se joga, Edu K! Posted by Hello

Estavam todos lá


Show do De Falla, quarta passada. Só esses putos pra me fazerem dançar até cover de Faith No More, putaquepariu. A gente perdôa, eles podem. E tocaram "Sodomia", tocaram os clássicos, a banda está boa pracaralho, fiquei especialmente vidrada com a Biba espancando os couros, quinze anos depois de um dia lá no antigo Circo Voador, o que era de lona. E o Rafinhael realizando seu sonho, tocando com o "ídalo" Edu K, que continua foda e chamou a maior cambada pra bagunçar o palco... bonito de se ver.

Estava todo mundo lá. Quer dizer, todo mundo que vagabundava pelas noites do Rio há mais de quinze anos, estava na área e sobreviveu ao álcool, às drogas, às pragas, ao medo de envelhecer e suas duas tentações, a caretice e a modernice. Os sobreviventes que não foram, é porque não ficaram sabendo a tempo... ou foi por motivos de força maior, motivos insondáveis, desvios inevitáveis. Porque todo mundo estava lá: todo mundo que bebia cachaça barata, filava cerveja e mandava ver uma fatia de pizza fria quando a fome apertava, naquele boteco ao lado do Estação Botafogo que se transformou num genérico "Café", essa bobagem enfeitada. Todos os vagabundos que davam calote no ônibus da volta para rachar uma última cerveja, contando os centavos enquanto se decidia, pela décima vez, se o melhor punk rock era o americano ou o inglês, todos eles lá na platéia, no palco. Todos os que eu mal conhecia ou que até conheci um tantinho - mas eu era tímida, mais ouvia do que falava, com meus olhos arregalados gritando na maquiagem preta. Ser adolescente era um sofrimento, estação no inferno, tudo era abismo a qualquer instante - putaquepariu, como é bom envelhecer - mas só um pouquinho, vai. O suficiente para ser mais viva.

Pensando bem, não estavam todos lá - porque a maioria não sobreviveu, especialmente à caretice, suponho. Mas quem estava, era de corpo e alma: isso enchia o ambiente, um teatro chamado "Odisséia". E depois de um kamikase e uns chopes, se você olhasse com verdadeira atenção, perceberia alguém meio difuso, belo como as ninfas, com roupas de mar e anéis de estrelas, ao lado direito do palco. Ou veria um grande sorriso ambíguo na carona da fumaça de uma bundudinha, no meio da bagunça. Veria sombras de pijamas, os ausentes sonhando.


Estavam todos lá.

Posted by Hello