12.4.05

Estavam todos lá


Show do De Falla, quarta passada. Só esses putos pra me fazerem dançar até cover de Faith No More, putaquepariu. A gente perdôa, eles podem. E tocaram "Sodomia", tocaram os clássicos, a banda está boa pracaralho, fiquei especialmente vidrada com a Biba espancando os couros, quinze anos depois de um dia lá no antigo Circo Voador, o que era de lona. E o Rafinhael realizando seu sonho, tocando com o "ídalo" Edu K, que continua foda e chamou a maior cambada pra bagunçar o palco... bonito de se ver.

Estava todo mundo lá. Quer dizer, todo mundo que vagabundava pelas noites do Rio há mais de quinze anos, estava na área e sobreviveu ao álcool, às drogas, às pragas, ao medo de envelhecer e suas duas tentações, a caretice e a modernice. Os sobreviventes que não foram, é porque não ficaram sabendo a tempo... ou foi por motivos de força maior, motivos insondáveis, desvios inevitáveis. Porque todo mundo estava lá: todo mundo que bebia cachaça barata, filava cerveja e mandava ver uma fatia de pizza fria quando a fome apertava, naquele boteco ao lado do Estação Botafogo que se transformou num genérico "Café", essa bobagem enfeitada. Todos os vagabundos que davam calote no ônibus da volta para rachar uma última cerveja, contando os centavos enquanto se decidia, pela décima vez, se o melhor punk rock era o americano ou o inglês, todos eles lá na platéia, no palco. Todos os que eu mal conhecia ou que até conheci um tantinho - mas eu era tímida, mais ouvia do que falava, com meus olhos arregalados gritando na maquiagem preta. Ser adolescente era um sofrimento, estação no inferno, tudo era abismo a qualquer instante - putaquepariu, como é bom envelhecer - mas só um pouquinho, vai. O suficiente para ser mais viva.

Pensando bem, não estavam todos lá - porque a maioria não sobreviveu, especialmente à caretice, suponho. Mas quem estava, era de corpo e alma: isso enchia o ambiente, um teatro chamado "Odisséia". E depois de um kamikase e uns chopes, se você olhasse com verdadeira atenção, perceberia alguém meio difuso, belo como as ninfas, com roupas de mar e anéis de estrelas, ao lado direito do palco. Ou veria um grande sorriso ambíguo na carona da fumaça de uma bundudinha, no meio da bagunça. Veria sombras de pijamas, os ausentes sonhando.


Estavam todos lá.

Posted by Hello

4 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Não adianta, a nostalgia tem um sabor irresistível.

ter. abr. 12, 10:18:00 AM 2005  
Blogger hectorlima said...

bom texto! ainda verei defalla ao vivo. pra mim é nostalgia que não vivi, mas dane-se, edu k tb é meu ídalo.

ter. abr. 12, 01:14:00 PM 2005  
Anonymous Anônimo said...

Texto irretocável.
Acataléptico.
E pra arrematar tudo isso que vc falou aí em cima, tiraram uma foto minha com a Biba Meira no camarim.

qui. abr. 14, 12:32:00 AM 2005  
Anonymous Anônimo said...

Pô, não precisava acontecer mais nada naquela noite...

qui. abr. 14, 12:34:00 AM 2005  

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