ENTREVISTA NA TRAMAVIRTUAL
Eletrônico caliente
Por Fernanda Cardoso
Leandra Lambert é a mulher por trás do Voz del Fuego, um projeto de música eletrônica nascido em 2003, que mistura batidas dos anos 90, funk e electro, tudo com um vocal bastante sensual.
A menina não pára e a maior prova disso é que, junto com o Voz del Fuego, ela ainda dá o ar de sua graça em dois projetos muito bacanas: o Efeito Coletivo e o Lingerie Underground. A TramaVirtual trocou uma idéia com ela para saber um pouco sobre todos os seus projetos e sobre o lançamento de seu CD Love Hertz.
Como e quando começou o Voz Del Fuego?
Começou em 2003. Eu já vinha fazendo umas brincadeiras eletrônicas no computador e ainda usava o nome antigo – Inhumanoids -, mas esse era um nome de grupo, de uma era remota em que a gente usava bateria eletrônica, sintetizador e gravador 4 track de fita cassete. Computadores, nem pensar. Continuar com esse nome fazendo música sozinha, me dava a sensação de que os outros "inhumanoids" tinham se evaporado e eu tinha ficado largada aqui, num canto cafona da galáxia, num planetinha obscuro... hahaha. Bom, eu queria um nome novo para uma fase nova. Queria comemorar a independência e as infinitas possibilidades que o computador caseiro estava me permitindo. Aí, em meados de 2003, eu comentei num fotolog e o nickname era vozdelfuego. Em pouco tempo, até meus amigos estavam me chamando assim. Resolvi adotar o "Voz del Fuego" para música também.
E este nome é alguma referência?É, eu andava com uma certa obsessão pelo simbolismo do fogo. Já tinha feito uma tatuagem de fogo e estava encantada com a Luz del Fuego. Ela era libertária, debochada e atirada na vida. Tinha um comportamento totalmente atípico no Brasil dos anos 50, um bom exemplo para as moças de todos os tempos. Resolvi que deveria ter algo de "fuego" no nome, só não sabia o quê. Tinha acabado de reler "V for Vendetta" e "Watchmen", do meu querido mago anarquista Alan Moore. Aí saiu a tradução do livro dele aqui no Brasil, "Voice of the Fire". Devorei, não parava de ler nem pra comer, muito foda, o livro já matava a minha fome. E o nome ficou resolvido nesse "casamento". Assim, de bobeira. Acabou sendo um nome que me remete a algumas das coisas que mais gosto e admiro.
Você era do Inhumanoids, uma banda que foi bastante comentada na década de 90. Porque a decisão de parar com a banda e se dedicar a um projeto solo?
Eu realmente não decidi parar com a banda, ela é que foi "morrendo". Eu só dei o golpe final. Já estava tudo desvirtuado, era melhor "matar" logo o bicho. O que não impede que o "bicho" venha a renascer algum dia - é isso que vem acontecendo com o "Inhumanoids" desde o início. Ele faz jus à letra sci-fi-cômica da música, é impressionante!
Além do Voz Del Fuego você participa de mais dois outros projetos, o Lingerie Underground e o Efeito Coletivo. Fale um pouco sobre eles.
O Efeito Coletivo reúne vários projetos de eletrônico e a Lingerie Underground é uma banda de rock. O Efeito Coletivo surgiu do encontro entre quatro projetos de eletrônico que se identificaram em vários pontos. Chegamos a ter um programa de rádio que divulgava a música eletrônica brasileira, na extinta Viva Rio, na cola do "América Perdida". Agora mantemos uma página na internet com cinco programas de web-radio, abertos a qualquer coisa que nos agrade e a quem quiser mandar material pra gente tocar. Faço o "Hay Banda!", que esteve um tempo fora do ar mas está de volta. Há também uma colaboração legal entre todos do coletivo, desde os aspectos mais práticos até os criativos. Há pouco tempo, o Flu também entrou para essa história, mas ainda não tocamos juntos. A Lingerie Underground surgiu aos poucos, das pessoas que foram aparecendo para tocar nos shows em 2004. No início era só para acompanhar as bases eletrônicas, mas a única que permaneceu desse início foi a Flávia Goo, que tocava guitarra. No final do ano, quando fomos ensaiar para o "Superdemo Digital", chamei a Marcelle para fazer os vocais comigo. Estávamos com formação completa e começamos a ensaiar algumas coisas novas, baseadas em improviso, sem base eletrônica, mais rock, letras em português. E aí acabou virando uma banda mesmo. A Marcelle tinha acabado de ver umas fotos ótimas do Velvet Underground, com uns veludos sob a terra. Aí ela imaginou uma calcinha bem pornô e escangalhada no lugar do veludo e como a banda só tinha mulheres e todas gostavam de Velvet...veio o nome. Rolaram muitos ensaios e já fizemos show com a formação nova, foi foda, muito bom. Agora, é fazer mais músicas, mais shows e gravar.
Você está finalizando seu primeiro CD Demo, o Love Hertz. Fale um pouco sobre ele.
Na verdade, já lancei vários demo CDs, até pela janela às vezes eu lanço um. Esses que aparecem na página aqui da TramaVirtual não são só virtuais, foram gravados e divulgados em CD. O Love Hertz começou a ser gravado depois de um acordo "de boca" com um selo bem bacana. Já nem sei se o acordo está de pé - mas com selo ou sem selo, vou gravando um CD completinho, aqui em casa mesmo e no estúdio de um amigo. Poderia já estar pronto, mas fiquei muito empolgada com a bagunça boa da Lingerie e abandonei o trabalho solo. Agora estou de volta, procurando conciliar os dois. Vai ter algo entre 11 e 14 faixas, incluindo remixes e versões novas de músicas que já estão por aí. Além de coisas diferentes, outras batidas vão conviver com o pancadão electro-punk-funk. Há a possibilidade de remixes de DJs que gosto muito. Tenho ouvido também minimal techno, tech-house e essa tal de disco-punk. Alguma coisa vai acabar passando por aí - mantendo uma certa unidade e coerência, claro. Mais letras em português, elas estão surgindo. Quero gravar participação da Lingerie Underground em duas músicas, "Pra Ficar Bonita" e "Shake, Don`t Fake..." já estão indo por esse caminho.
Como você costuma se apresentar?
Há três formatos de show: "pocket-solo" eletrônico cru, no qual canto, grito e me jogo enquanto a groovebox MC-505 toca tudo o que eu programei em casa. A maior parte das músicas foi feita no computador. Não tenho notebook e cheguei a tocar com as bases pré-gravadas, mas acho isso bem feio e deselegante. Então tomei vergonha na cara, juntei uma grana, comprei uma MC-505 - que faz "de quase tudo" -, e comecei a adaptar as músicas. Tem o "live p.a", junto com mais gente da Lingerie e do Efeito Coletivo, ou que já participou da banda mas não está fixo, com mais interferências e elementos no som. E tem o formato "banda completa", com a Lingerie Underground. Que realmente transforma o som, acrescenta mais peso, ruído e harmonia e me dá mais vontade de me jogar, literalmente. Tocamos músicas do Voz, da Lingerie e de outros. Fazemos uns covers surtados, nada fiéis aos originais. A formação é: Mobi na bateria acústica, "as Flávias" no baixo e na guitarra, eu e Marcelle nos vocais e letras, e por fim eu na eletrônica.
Você prefere compor e criar individualmente? Quais as dificuldades e facilidades disso?
Eu gosto muito de todos os jeitos e as diferenças são grandes. Adoro o "método nerd experiemtal", de ficar horas e horas sozinha em frente a uma máquina, viajando nos sons. Adoro o "impulso romântico" de pegar um caderninho com caneta, ir para um bar, escrever uma letra, chegar em casa com uma melodia na cabeça, tocar e anotar. E adoro a "interação criativa". Participar de algo novo que surge do caos de um monte de gente que não combinou nada previamente, que sai tocando e acaba inventando uma música, coletivamente. Não consigo escolher, prefiro alternar os três jeitos. Trabalhar sozinha tem a vantagem da rapidez e
independência - posso fazer uma música completa até de um dia para outro, com instrumental, voz, tudo. E existe a facilidade de não precisar sair de casa, gastar dinheiro em estúdio, conciliar horários, etc. Para shows, também posso botar uma mochila nas costas, pegar o case com a MC e ir a qualquer lugar. Mas prefiro não dispensar o prazer e o privilégio de tocar, conviver e encher a cara com essas pessoas que eu tive a sorte de encontrar.
Quais são as suas influências?
Clássicos do eletrônico, como o Kraftwerk. Proto-punk, punk e pós-punk, e aí estão incluídos desde precursores como Stooges e Velvet, até pops como Blondie e aquelas bandas mais sombrias dos 80s, que se convencionou chamar de "góticas", como o Bauhaus. Funk e electrofunk, de Funkadelic a Afrika Bambaataa, da sofisticação de Anthony Rother, Legowelt e Drexciya, ao que toca no morro aqui em frente. Esse povo de Detroit em geral, techno que não fica "na mesma". Bandas que misturam eletrônica e rock, seja Ministry, New Order ou LCD Soundsystem. Mulheres fodonas que admiro como Patti Smith, Siouxsie, Dot Allison e Ellen Allien, entre outras. Coisas inclassificáveis como Chris & Cosey, Coil e Cocteau Twins. "Viagens" pessoais, filmes, livros...O que acontece ao meu redor, especialmente nas noites peculiares de Copacabana. Na página aqui da Trama tem uma "listinha" com mais algumas influências, mas aquilo ali é só o começo...
Fale sobre novidades, próximos projetos, site...
Acabei de fazer o site oficial do Voz del Fuego com um programador ótimo, o meu querido Daniel. Usamos um recurso pouco explorado, a transparência. E tem uma boa seção de fotos e MP3 em 160kbps que serão sempre atualizadas. Tem também uma newsletter e um guest-book incomum e divertido - um mapa-mundi com bonequinhos que você posiciona, muito bom. E sub-páginas da Lingerie Underground, do Efeito Coletivo e do Inhumanoids. Vídeos em breve.Quinta agora, dia 28/07, vai ter GZ, Voz del Fuego e XXX! no Dama de Ferro, em Ipanema, aqui no Rio, junto com outros lives, DJs e o Vj Jodele Larcher. Estamos correndo atrás de mais shows, sempre – deve rolar um grande em setembro, a confirmar. Quero sair mais do Rio, tocar
mais em São Paulo, ir para Brasília com a banda, viajar para outros estados...E depois, o mundo, claro. Além dele também, hahaha. Fazer remixes para o Efeito Coletivo, terminar a gravação do "Love Hertz", encontrar uma gravadora legal se o tal selo "furar" e começar de fato a gravar o EP da Lingerie. Tudo com muito amor no coração e jacas felizes pelo caminho. Ufa. É isso...obrigada!
http://www.vozdelfuego.com/
Por Fernanda Cardoso
Leandra Lambert é a mulher por trás do Voz del Fuego, um projeto de música eletrônica nascido em 2003, que mistura batidas dos anos 90, funk e electro, tudo com um vocal bastante sensual.
A menina não pára e a maior prova disso é que, junto com o Voz del Fuego, ela ainda dá o ar de sua graça em dois projetos muito bacanas: o Efeito Coletivo e o Lingerie Underground. A TramaVirtual trocou uma idéia com ela para saber um pouco sobre todos os seus projetos e sobre o lançamento de seu CD Love Hertz.
Como e quando começou o Voz Del Fuego?
Começou em 2003. Eu já vinha fazendo umas brincadeiras eletrônicas no computador e ainda usava o nome antigo – Inhumanoids -, mas esse era um nome de grupo, de uma era remota em que a gente usava bateria eletrônica, sintetizador e gravador 4 track de fita cassete. Computadores, nem pensar. Continuar com esse nome fazendo música sozinha, me dava a sensação de que os outros "inhumanoids" tinham se evaporado e eu tinha ficado largada aqui, num canto cafona da galáxia, num planetinha obscuro... hahaha. Bom, eu queria um nome novo para uma fase nova. Queria comemorar a independência e as infinitas possibilidades que o computador caseiro estava me permitindo. Aí, em meados de 2003, eu comentei num fotolog e o nickname era vozdelfuego. Em pouco tempo, até meus amigos estavam me chamando assim. Resolvi adotar o "Voz del Fuego" para música também.
E este nome é alguma referência?É, eu andava com uma certa obsessão pelo simbolismo do fogo. Já tinha feito uma tatuagem de fogo e estava encantada com a Luz del Fuego. Ela era libertária, debochada e atirada na vida. Tinha um comportamento totalmente atípico no Brasil dos anos 50, um bom exemplo para as moças de todos os tempos. Resolvi que deveria ter algo de "fuego" no nome, só não sabia o quê. Tinha acabado de reler "V for Vendetta" e "Watchmen", do meu querido mago anarquista Alan Moore. Aí saiu a tradução do livro dele aqui no Brasil, "Voice of the Fire". Devorei, não parava de ler nem pra comer, muito foda, o livro já matava a minha fome. E o nome ficou resolvido nesse "casamento". Assim, de bobeira. Acabou sendo um nome que me remete a algumas das coisas que mais gosto e admiro.
Você era do Inhumanoids, uma banda que foi bastante comentada na década de 90. Porque a decisão de parar com a banda e se dedicar a um projeto solo?
Eu realmente não decidi parar com a banda, ela é que foi "morrendo". Eu só dei o golpe final. Já estava tudo desvirtuado, era melhor "matar" logo o bicho. O que não impede que o "bicho" venha a renascer algum dia - é isso que vem acontecendo com o "Inhumanoids" desde o início. Ele faz jus à letra sci-fi-cômica da música, é impressionante!
Além do Voz Del Fuego você participa de mais dois outros projetos, o Lingerie Underground e o Efeito Coletivo. Fale um pouco sobre eles.
O Efeito Coletivo reúne vários projetos de eletrônico e a Lingerie Underground é uma banda de rock. O Efeito Coletivo surgiu do encontro entre quatro projetos de eletrônico que se identificaram em vários pontos. Chegamos a ter um programa de rádio que divulgava a música eletrônica brasileira, na extinta Viva Rio, na cola do "América Perdida". Agora mantemos uma página na internet com cinco programas de web-radio, abertos a qualquer coisa que nos agrade e a quem quiser mandar material pra gente tocar. Faço o "Hay Banda!", que esteve um tempo fora do ar mas está de volta. Há também uma colaboração legal entre todos do coletivo, desde os aspectos mais práticos até os criativos. Há pouco tempo, o Flu também entrou para essa história, mas ainda não tocamos juntos. A Lingerie Underground surgiu aos poucos, das pessoas que foram aparecendo para tocar nos shows em 2004. No início era só para acompanhar as bases eletrônicas, mas a única que permaneceu desse início foi a Flávia Goo, que tocava guitarra. No final do ano, quando fomos ensaiar para o "Superdemo Digital", chamei a Marcelle para fazer os vocais comigo. Estávamos com formação completa e começamos a ensaiar algumas coisas novas, baseadas em improviso, sem base eletrônica, mais rock, letras em português. E aí acabou virando uma banda mesmo. A Marcelle tinha acabado de ver umas fotos ótimas do Velvet Underground, com uns veludos sob a terra. Aí ela imaginou uma calcinha bem pornô e escangalhada no lugar do veludo e como a banda só tinha mulheres e todas gostavam de Velvet...veio o nome. Rolaram muitos ensaios e já fizemos show com a formação nova, foi foda, muito bom. Agora, é fazer mais músicas, mais shows e gravar.
Você está finalizando seu primeiro CD Demo, o Love Hertz. Fale um pouco sobre ele.
Na verdade, já lancei vários demo CDs, até pela janela às vezes eu lanço um. Esses que aparecem na página aqui da TramaVirtual não são só virtuais, foram gravados e divulgados em CD. O Love Hertz começou a ser gravado depois de um acordo "de boca" com um selo bem bacana. Já nem sei se o acordo está de pé - mas com selo ou sem selo, vou gravando um CD completinho, aqui em casa mesmo e no estúdio de um amigo. Poderia já estar pronto, mas fiquei muito empolgada com a bagunça boa da Lingerie e abandonei o trabalho solo. Agora estou de volta, procurando conciliar os dois. Vai ter algo entre 11 e 14 faixas, incluindo remixes e versões novas de músicas que já estão por aí. Além de coisas diferentes, outras batidas vão conviver com o pancadão electro-punk-funk. Há a possibilidade de remixes de DJs que gosto muito. Tenho ouvido também minimal techno, tech-house e essa tal de disco-punk. Alguma coisa vai acabar passando por aí - mantendo uma certa unidade e coerência, claro. Mais letras em português, elas estão surgindo. Quero gravar participação da Lingerie Underground em duas músicas, "Pra Ficar Bonita" e "Shake, Don`t Fake..." já estão indo por esse caminho.
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Você prefere compor e criar individualmente? Quais as dificuldades e facilidades disso?
Eu gosto muito de todos os jeitos e as diferenças são grandes. Adoro o "método nerd experiemtal", de ficar horas e horas sozinha em frente a uma máquina, viajando nos sons. Adoro o "impulso romântico" de pegar um caderninho com caneta, ir para um bar, escrever uma letra, chegar em casa com uma melodia na cabeça, tocar e anotar. E adoro a "interação criativa". Participar de algo novo que surge do caos de um monte de gente que não combinou nada previamente, que sai tocando e acaba inventando uma música, coletivamente. Não consigo escolher, prefiro alternar os três jeitos. Trabalhar sozinha tem a vantagem da rapidez e
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Quais são as suas influências?
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8 Comments:
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