25.4.08

(Cartas de Terras Insondáveis - I ou XXII)

Overhillsandfaraway, um belo dia, ano esquecido.


Como tem passado?

Por aqui vai passando o cavaleiro azul pela ponte, sob corvos que já não voam mais, feras pastam entre girassóis e gritos, não nos vemos há mais de cem anos, como você vai? Vou indo. Passou rápido, não?

Nossas telas são eletrônicas, freqüências fragmentadas, fast forward é o que nos apraz, velozes chegamos até onde o vento faz a curva sem dizer adeus e pode ser encaixotado e ganhar o nome de ar-condicionado.

Eu já vi neve no freezer de alguém.

Entre em contato conosco – não falei com deus em uma página de internet.

Um deserto épico entre o corredor e o carpete.

Um decerto ético entre o elevador e a quitinete.

Uma rima pobre como todos nós.


E ainda assim

O mesmo grande assombro.


O mesmo grande assombro diante da respiração de todas as coisas.
O mármore é macio sob o peso imensurável do tempo, fios rotos de um relógio de pano tecendo a história, átomos que outros já respiraram no andar dos mortos sob a luz-lembrança das estrelas que já não são mais. Lacuna de luminosidade movente nos poros da terra, sombras da árvore ao pé de todas as coisas: o mesmo grande assombro.

Havia uma esperança

Na escada torta

E um cisne acre-doce

Quando eu subia:

Não há mais.

Havia um lacre

No vão da porta

De um crime

De cara roxa

Quando eu entrei:

Não há mais.


Havia uma dúvida

Pendurada na orelha

No sopro de búfalo

À frente do carro

E do caminho

Que engendra a semente

Dentro de tudo

O imaginável:

Ainda está lá.

Lá bemol
Sol sustenido
No céu de papel
Cante comigo.


Um abraço no espaço-tempo que nos distende e

Aproxima,

L.